quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Penta ou hexa?

Falar em futebol é mexer com emoção. Contudo, dinheiro e interesses alheios deixam o sentimento do torcedor em último plano. A conquista do Campeonato Brasileiro, alcançada pelo Clube de Regatas Flamengo, reacendeu uma discussão que aparentemente não tem fim. Penta ou hexa? Essa pergunta tem gerado inúmeros debates e as mais diversas opiniões sobre o que teria acontecido com o título mais controvertido da história do futebol brasileiro. Afinal, quem foi o verdadeiro campeão brasileiro de 1987?

Naquele ano, a Confederação Brasileira de Futebol alegou não ter condições de arcar com a organização do campeonato, sendo este assumido pelo poderoso Clube dos 13. Então, tal organização, formada pelos 13 clubes de maior torcida do Brasil, assumiu o controle e estruturou a Copa União, convidando mais três times (Goiás, Santa Cruz e Coritiba), tendo em vista a dificuldade em organizar um campeonato com número ímpar de participantes. Entretanto, o Campeonato Brasileiro de 1986 garantiu acesso de trinta e dois times à primeira divisão, mas, por exigência dos patrocinadores, entre eles Coca-Cola, Varig e Rede Globo de Televisão, só poderia haver metade desse número.

Os problemas começaram quando tais clubes resolveram excluir outros que, notoriamente, tinham conquistado o acesso no ano anterior. Guarani e América/RJ, segundo e quarto colocados no ano anterior, ficariam de fora da Copa União, segundo o regulamento elaborado pelos 13 grandes. Diante do impasse, a CBF criou uma fórmula na qual os dois primeiros colocados de dois módulos (verde e amarelo), ambos com dezesseis clubes, enfrentariam-se num quadrangular final, mas, como havia uma dificuldade de o Clube dos 13 aceitar tal imposição da CBF, Eurico Miranda, representante autorizado, foi enviado para resolver o impasse, fechou acordo e o campeonato, embora já em andamento, foi conduzido até o fim.

Resultado: Flamengo e Internacional, primeiro e segundo colocados do módulo verde, recusaram-se a disputar o quadrangular final, sob a alegação de que não jogariam contra times de “segunda divisão”, argumento que não encontra amparo, pois o Guarani foi vice-campeão no ano anterior. O Sport Club Recife foi declarado, pela CBF, campeão brasileiro de 1987 e o Guarani novamente vice, garantindo suas participações na Taça Libertadores da América no ano seguinte. O mesmo não aconteceu com Flamengo e Internacional, declarados campeão e vice, respectivamente, pelo CND (Conselho Nacional de Desportos). O caso foi tão controvertido que terminou na justiça comum e mais uma vez o Sport foi declarado campeão, decisão que não pode mais ser modificada.

Em meio a uma situação provocada por um misto de incapacidade e interesses financeiros, várias perguntas ficam no ar. Que jornalista, empregado por um grande veículo de comunicação, arriscaria seu emprego e defenderia abertamente que o Flamengo não é hexacampeão? Além de perder o emprego, estaria condenado a ser eternamente hostilizado pela torcida, que certamente não aceitaria o comportamento do profissional. Como explicar aos torcedores, em sua maioria extremamente passionais, que o time deles não foi campeão brasileiro por seis vezes? Camisas, adesivos, bandeiras, faixas, enfim, todo um arsenal confirma o que órgãos oficiais desmentem. Como ir de encontro ao que foi artificialmente e exaustivamente pregado como verdade absoluta durante anos?

Se o Sport, amparado pelo reconhecimento da CBF, da FIFA e do Poder Judiciário, não é considerado campeão brasileiro de 1987 pela imprensa, onde esta encontra amparo para justificar a série de especiais e reportagens exibidas na TV, conferindo ao rubro-negro carioca um sexto título inexistente?

Eu não esqueço a Copa União de 1987. E você?


sábado, 1 de agosto de 2009

Obama e a Comissão de Verdade e Reconciliação Informal

Henry Louis Gates Jr., após viagem, chegava a sua casa. Encontrando a porta travada, tentou forçá-la para abrir. Uma vizinha, pensando tratar-se de uma tentativa de arrombamento, chamou a polícia. O sargento James Crowley, sem saber de absolutamente nada, abordou o professor de Harward, que retrucou a abordagem. Enfim, uma sucessão de equívocos, combinada com uma boa dose de falta de sorte, levou a uma polêmica racial. Uma daquelas que a imprensa simplesmente adora. O presidente Barack Obama, por ser amigo do professor, fez um comentário infeliz (pois não sabia de fato o que acontecera no evento), chamando a atitude do policial de "estúpida". Digo infeliz, pois não há como afirmarmos se houve excesso e quem o cometera. Bom, vocês devem estar se perguntando o que um assunto tão recente tem a ver com o tema do blog. É simples: a solução encontrada por Obama para resolver de forma definitiva o incidente foi similar ao trabalho das Comissões da Verdade e Reconciliação, instituídas na África do Sul, logo após o fim do apartheid, com o intuito de não deixar que o clima de revanchismo pudesse levar os sul-africanos a mais sofrimento e dor, desestabilizando o tão recente panorama democrático. As CVRs tinham o objetivo de reconciliar vítimas e agressores, dando oportunidade de diálogo em detrimento ao ódio e rancor. Assim foi resolvido um problema que, sem uma "cerveja", poderia ter prejudicado os novos ares democráticos americanos.

Eu não esqueço as Comissões de Verdade e Reconciliação. E você?

Para saber mais sobre as CVRs clique em aqui.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Já que falamos do homem...

Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, sempre afinado com o poder, construiu o alicerce de seu império servindo à ditadura militar, quando foi governador do estado da Bahia pela primeira vez. Como ministro das telecomunicações, durante o governo Sarney, ajudou a fortalecer o sistema Global de televisão. As concessões de rádio e TV eram estrategicamente distribuídas a quem fosse de seu grupo. Obviamente os Marinho retribuíram-lhe com imensa gratidão todo o esforço desprendido, poupando-o de toda a sorte notícias que pudesem prejudicá-lo. Renunciou ao mandato de senador após um escândalo que o envolvia diretamente na violação do sigilo do painel do Senado. Na ocasião, teve acesso a uma lista com os nomes dos senadores que participaram da sessão que cassou o mandato de Luiz Estevão. O coronelismo foi exercido com maestria pelo político conhecido por sua forma violenta de afirmar o poder, ficando conhecido entre os colegas parlamentares como "Toninho Malvadeza". Vítima de uma infecção generalizada que resultou em sua morte, deixou um legado de miséria e atraso que qualquer turista com olhos mais abertos pode perceber.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sarney é acusado de ter recebido auxílio-moradia indevidamente

José Sarney, a velha raposa do Maranhão. Aquele que assumiu a Presidência de forma ilegítima. Pois é, ele mesmo, aquele que fez milhões de brasileiros enfrentarem fila para comprar feijão, entre outros. O sujeito da hiperinflação, da moratória, da distribuição de concessões de rádio e TV, através de seu ministro das comunicações, Antônio Carlos Magalhães. Ah, este último? "Dono da Bahia", renunciou para não ser cassado no escândalo da fraude no painel eletrônico do Senado.

Frases de Sarney sobre ACM : "ACM foi construtor da Bahia moderna" "Ele vai fazer uma grande falta ao Congresso Nacional porque ele era uma voz permanente, de referência"

Certa vez, ouvindo um renomado jornalista, fui surpreendido: "Notícia é inusitado, o incomum". Não sei se a definição é correta do ponto de vista acadêmico. Caso seja equivocada, os jornalistas de plantão podem contribuir. Entretanto, tomando como base essa definição, é difícil compreender por que o recebimento indevido de auxílio-moradia por Sarney é notícia.

Eu não esqueço a história do Sarney. E você?

"Muito Além do Cidadão Kane" e a edição

O assunto me interessa por vários aspectos. O primeiro deles é o poder dos meios de comunicação no processo de formação política do país. Em segundo lugar, a maneira como essa força descomunal define o que pode, ou não, ser lembrado. Os outros, só em um longo bate-papo. O objeto do nosso exercício de memória é o fabuloso documentário de Simon Hartog, produzido em 1993, que fala sobre o papel da Rede Globo nos rumos do Brasil. A parte mais interessante está na abordagem sobre a edição do debate entre os candidatos à Presidência da República, naquela época: Lula e Collor. Vale dizer que a produção da BBC não foi amplamente divulgada por motivos óbvios. O documentário é preciso e faz um raio x de toda a programação global, relacionando os programas aos seus objetivos.
Muita coisa aconteceu de 1989 até 2009, mas a influência da emissora continua muito grande, determinando quando, como e o que deve ser lembrado.

Eu não esqueço a edição do debate. E você?